O QUE SÃO ESQUEMAS?

Esquemas são as maneiras habituais por meio das quais você vê as coisas. Por exemplo, a depressão caracteriza-se por esquemas relacionados a perda, privação e fracasso; a ansiedade é caracterizada por esquemas relacionados a ameaça ou medo de fracasso; e a raiva caracteriza-se por esquemas relacionados a insulto, humilhação ou violação de regras. Pesquisas sobre personalidade indicam que as pessoas diferem nos temas subjacentes à depressão, ansiedade ou raiva..

Cada um de nós vê as próprias experiências em termos de certos padrões habituais de pensamento. Uma pessoa pode focar muito as questões envolvendo realização, outra as questões em torno da rejeição; e outra ainda as questões ligadas ao medo de ser abandonada.

Digamos que seu esquema - sua questão ou vulnerabilidade em particular - esteja relacionada com realização. As coisas podem estar indo bem para você no trabalho, mas então você tem um contratempo que ativa seu esquema sobre realização - a necessidade de ser muito bem-sucedido de modo que não se veja como fracasso. O contratempo no trabalho pode ativar o esquema de fracasso e então você fica ansioso ou deprimido.

Ou digamos que seu esquema esteja relacionado a questões de abandono. Você pode estar muito vulnerável a quaisquer sinais de rejeição ou abandono. Enquanto o relacionamento for bem, você não fica preocupado. Mas, devido a esse esquema, você pode preocupar-se com o abandono ou a rejeição. Se o relacionamento acaba, isto o leva a sentir-se deprimido porque não suporta ficar sozinho.

Como Compensamos Nossos Esquemas

Se você tem um esquema sobre uma questão específica, pode tentar compensar essa vulnerabilidade. Por exemplo, se você tem um esquema de fracasso ou indicando que estar na média seja ruim, você pode trabalhar excessivamente - neste caso, você está tentando compensar a percepção de que pode acabar sendo inferior ou não ter um desempenho à altura de seus padrões de perfeição.

Você pode compensar checando seu trabalho repetidas vezes. Como consequência, as pessoas podem vê-lo como muito absorvido no trabalho. Você pode encontrar dificuldades em relaxar, pois se preocupa por não estar trabalhando o suficiente, que algo deixou de ser feito, ou que está perdendo sua motivação.

Se seu esquema é de abandono, você pode compensá-lo dedicando todo o tempo a seu parceiro ou parceira. Você pode temer ser assertivo, pois teme ser abandonado. Ou você pode constantemente buscar reasseguramento junto a seu parceiro de forma a sentir-se seguro, mas isto não dura muito tempo. Você continua vendo sinais indicando que seu parceiro irá embora.

Outra forma de compensar o esquema de abandono é constituir relações com pessoas que não satisfazem suas necessidades, mas com quem deseja estar ligado porque não quer ficar sozinho. Ou permanece em relacionamentos muito além do ponto que parece razoável, pois pensa que não vai suportar ficar sozinho.

Como você pode ver, tentar compensar os esquemas subjacentes pode criar problemas adicionais. A "compensação" pode levá-lo a sacrificar suas necessidades, trabalhar compulsivamente, buscar relacionamentos desvantajosos, preocupação, exigência de segurança e outros comportamentos problemáticos.

E o fato mais importante sobre essas compensações é que você nunca realmente aborda seu esquema subjacente. Por exemplo, você pode nem mesmo questionar sua crença de que tem de ser especial, superior, evitar ficar na média, evitar ficar sozinho, etc.

Portanto, você nunca realmente modifica o esquema. Ele continua lá - pronto para ser ativado por certos acontecimentos. E sua vulnerabilidade contínua.

Como Evitamos Enfrentar os Esquemas

Outro processo que cria problemas é a "esquiva do esquema". Isto significa que você tenta evitar enfrentar quaisquer questões que toquem seu esquema.

Digamos que você tenha um esquema de fracasso; sua ideia é de que, no fundo, você deve ser realmente incompetente. Uma maneira pela qual você pode evitar testar esse esquema é nunca encarar tarefas desafiadoras ou abandonar as tarefas rapidamente. Ou, digamos que você tenha um esquema que lhe indique ser indigno de amor ou não ser atraente. Como você evita enfrentar o esquema?

Você pode evitar contatos com as pessoas que pensa que não irão aceitá-lo. Você pode evitar namorar, pode evitar telefonar aos amigos, pois assume de antemão que as pessoas acham que você não tem nada a oferecer. Ou, digamos que você tenha medo de ser abandonado. Você poderia evitar esse esquema não permitindo aproximar-se de ninguém, ou poderia romper com a outra pessoa precocemente para não ser rejeitado mais tarde.

Outra forma pela qual as pessoas evitam os esquemas - quaisquer que sejam eles - é por intermédio de fuga emocional com uso de substâncias ou comportamentos extremos, como beber muito, usar drogas para aliviar seus sentimentos, comer compulsivamente ou mesmo atuar sexualmente.

Você pode sentir que lidar com os pensamentos e sentimentos é tão doloroso que precisa evitá-los ou fugir deles com esses comportamentos que viciam. Tais comportamentos "escondem" de você seus medos subjacentes, pelo menos enquanto se alimenta compulsivamente, bebe muito ou usa drogas. É claro, os sentimentos ruins voltam novamente, pois você não está realmente examinando e contestando os esquemas subjacentes.

E, ironicamente, esses comportamentos que viciam se inserem nos esquemas negativos, fazendo-o sentir-se ainda pior em relação a si mesmo.

De onde vêm os Esquemas?

Aprendemos esses esquemas negativos com nossos pais, irmãos, colegas e parceiros. Os pais podem contribuir com os esquemas negativos ao fazê-lo sentir que não é bom o suficiente a menos que seja superior a todos, dizendo a você que é muito gordo ou que não é atraente, comparando-o com outras crianças que estão "se saindo melhor".

Conforme indicamos, outras pessoas que não nossos pais podem ser fontes de esquemas. Talvez seu irmão ou irmã o tenham maltratado, levando-o a formar esquemas de abuso, não-merecimento de amor, rejeição ou controle. Ou talvez seu parceiro ou parceira tenha lhe dito que você não é bom ou boa o suficiente, levando a esquemas de não ser atraente, não ter valor e não ser digno de amor.

Nós até internalizamos esquemas a partir da cultura popular, como imagens de ser esbelta e bonita, ter corpo perfeito, de "como homens de verdade deveriam ser" , sexo perfeito, rios de dinheiro e enorme sucesso.

Essas imagens irreais reforçam esquemas de perfeição, superioridade, inadequação e imperfeição.

Extraído do livro “Técnicas de Terapia Cognitiva - Manual do Terapeuta”, de Robert L. Leahy

DESCRIÇÃO DOS ESQUEMAS

Esquema: Privação Emocional.

Descrição do esquema: Este esquema refere-se à crença de que as necessidades emocionais primárias nunca serão atendidas pelos outros. Essas necessidades incluem carinho, empatia, afeição, proteção, orientação e interesse por parte dos outros. É comum os pais privarem a criança emocionalmente. As três formas mais importantes de privação são:

- privação de cuidados: ausência de atenção, afeto, carinho ou companheirismo.

- privação de empatia: ausência de compreensão, de escuta, de uma postura aberta ou de compartilhamento mútuo de sentimentos.

- privação de proteção: ausência de força, direção ou orientação por parte de outros. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: Isolamento e solidão.

Necessidades básicas não satisfeitas: afeto, amorosidade, empatia e proteção nas relações estabelecidas na infância.

Esquema adaptativo (oposto): completude emocional. Estratégia de enfrentamento adaptativa: é capaz de formar relações de intimidade com pessoas significativas, que incluem espontaneidade, expressão de necessidades e trocas amorosas.

Esquema: Abandono/Instabilidade.

Descrição do esquema: este esquema refere-se à expectativa de que logo serão perdidas as pessoas com as quais se cria vínculo emocional. A pessoa acredita que, de uma maneira ou de outra, os relacionamentos íntimos terminarão iminentemente.

Na infância, esses pacientes podem ter vivenciado o divórcio ou a morte dos pais; este esquema também pode surgir quando os pais foram inconsistentes no atendimento das necessidades da criança. Por exemplo, pode ter havido muitas ocasiões em que a criança foi deixada sozinha ou desatendida por períodos prolongados.

Também há a percepção de que os outros com quem poderia se relacionar são instáveis e indignos de confiança. Envolve a sensação e que pessoas importantes não serão capazes de continuar proporcionando apoio emocional, ligação, força ou proteção prática porque seriam emocionalmente instáveis e imprevisíveis, não mereceriam confiança ou só estariam presentes de forma errática.

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: mágoa, ansiedade e raiva. Necessidades básicas não satisfeitas: base emocional estável de apego.

Esquema adaptativo (oposto): apego seguro. Estratégia de enfrentamento adaptativa: busca e mantém relações estáveis com outros.

Esquema: Desconfiança/Abuso.

Descrição do esquema: Este esquema refere-se à expectativa de que os outros, de alguma maneira, tirarão vantagem da pessoa, intencionalmente. Há a expectativa de que os outros irão machucar, abusar, humilhar, enganar, mentir, manipular ou aproveitar-se.

Geralmente envolve a percepção de que o prejuízo é intencional ou resultado de negligência injustificada ou extrema, ou que sempre se acaba sendo enganado por outros ou “levando a pior”. Com frequência pensam em termos de atacar primeiro ou se vingar depois.

Na infância, esses pacientes muitas vezes foram abusados ou tratados injustamente por pais, irmãos, amigos, professores e/ou outras figuras significativas. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: estado de alarme, ansiedade, raiva.

Necessidades básicas não satisfeitas: honestidade, verdade, senso de lealdade e ausência de situações de abuso.

Esquema adaptativo (oposto): confiança básica. Estratégia de enfrentamento adaptativa: acredita em intenções e propósitos alheios e dá o benefício da dúvida em situações ambíguas.

Esquema: Isolamento social/Exclusão social.

Descrição do esquema: Este esquema refere-se à crença de estar isolado do mundo, de ser diferente das outras pessoas e/ou de não fazer parte de nenhuma comunidade. Essa crença normalmente é causada por experiências iniciais em que a criança vê que ela e sua família são diferentes das outras pessoas. Envolve, também, a crença de que se é indesejável socialmente.

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade. Necessidades básicas não satisfeitas: sentimento de aceitação e inclusão nos valores e interesses de sua comunidade (amigos).

Esquema adaptativo (oposto): pertencimento social. Estratégia de enfrentamento adaptativa: tem interesse e conexão com grupos sociais e compartilha interesses.

Esquema: Defectividade/Vergonha

Impossibilidade de ser amado.

Descrição do esquema: Sentimento de que é defectivo/defeituoso, falho, mau, indesejado, inferior ou inválido em aspectos importantes, ou de não merecer o amor de pessoas importantes quando está em contato com elas.

Pode haver hipersensibilidade à crítica, rejeição e postura acusatória; constrangimento, comparações e insegurança quando se está junto de outros, ou vergonha dos defeitos percebidos. Essas falhas podem ser privadas (como egoísmo, impulsos de raiva, desejos sexuais inaceitáveis) ou públicas (como aparência física indesejável, inadequação social).

Os pais geralmente criticavam muito os filhos e faziam com que eles sentissem que não eram dignos de serem amados. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: vergonha, ansiedade. Necessidades básicas não satisfeitas: aceitação amorosa incondicional dos cuidadores; encorajamento para compartilhar áreas de conflito pessoal e garantia de confidencialidade; ausência de criticismo e rejeição.

Esquema adaptativo (oposto): auto-aceitação e amor próprio. Estratégia de enfrentamento adaptativa: demonstra auto-aceitação e é genuíno e honesto para com os outros.

Esquema: Fracasso.

Descrição do esquema: Este esquema refere-se à crença de que a pessoa é incapaz de ter um desempenho tão bom quanto o dos outros na profissão, na escola ou nos esportes. Esses pacientes podem sentir-se burros, ineptos, sem talento ou ignorantes.

A pessoa com esse esquema muitas veze nem tenta fazer as coisas, porque acredita que vai fracassar. Esse esquema pode-se desenvolver quando a criança é desprezada e tratada como se fosse um fracasso na escola ou em outras esferas de realização. Os pais normalmente não proporcionavam suficiente apoio, disciplina e encorajamento para que a criança persistisse e tivesse sucesso em suas realizações acadêmicas e esportivas.

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: sentimento de ser estúpido, medíocre, uma farsa. Necessidades básicas não satisfeitas: suporte e orientação no desenvolvimento de habilidades em diversas áreas (lazer, educacional, esportiva, etc.).

Esquema adaptativo (oposto): sucesso. Estratégia de enfrentamento adaptativa: é capaz de gerar significado às suas escolhas profissionais, educacionais, etc.

Esquema: Dependência/Incompetência.

Descrição do esquema: Este esquema refere-se à crença de que a pessoa não é capaz de assumir, de forma competente e independente, as responsabilidades do cotidiano. A pessoa com esse esquema depende excessivamente dos outros para tomar decisões e iniciar novas tarefas.

Os pais, em geral, não estimularam a criança a agir de forma independente e a ter confiança em sua capacidade de tomar conta de si mesma. Com frequência, apresenta-se como desamparo. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade, tensão.

Necessidades básicas não satisfeitas: desafios, suporte e orientação para o aprendizado de como manejar com o cotidiano.

Esquema adaptativo (oposto): competência racional e senso de autonomia. Estratégia de enfrentamento adaptativa: maneja as demandas diárias de modo decidido e sem utilização exagerada do auxílio dos outros. mostra-se independente, mas conectada.

Esquema: Vulnerabilidade ao dano e à doença.

Descrição do esquema: Este esquema refere-se à crença de que a pessoa está sempre prestes a viver uma grande catástrofe e pode levar a precauções excessivas para se proteger. Normalmente, um ou ambos os pais eram muito medrosos e passaram a ideia de que o mundo é um lugar perigoso.

O medo se dirige a um ou mais dos seguintes temas:

a) catástrofe em termos de saúde - ataques do coração, AIDS, câncer, tumores, etc.;

b) catástrofes emocionais - enlouquecer, nunca mais se livrar de uma angústia terrível, etc.;

c) catástrofes externas - queda de elevadores, ataques criminosos, desastre de avião, etc. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade.

Necessidades básicas não satisfeitas: auxílio por parte dos cuidadores no equilíbrio entre indicadores de doença ou problemas versus habilidades de enfrentamento. Evitação de exposição de preocupações excessivas ou superproteção.

Esquema adaptativo (oposto): segurança e força pessoal. Estratégia de enfrentamento adaptativa: tem um senso realístico de segurança e resiliência e enfrenta situações problemáticas de forma proativa e racional.

Esquema: Emaranhamento/Self subdesenvolvido.

Descrição do esquema: Envolvimento emocional e intimidade em excesso com uma ou mais pessoas importantes (com frequência, os próprios pais), dificultando a individuação integral e desenvolvimento social normal. Muitas vezes, envolve a crença de que ao menos um dos indivíduos emaranhados não consegue sobreviver ou ser feliz sem o apoio constante do outro.

Pode também incluir sentimentos de ser sufocado ou fundido com outras pessoas e de não ter uma identidade individual suficiente. Com frequência, é vivenciado como sentimento de vazio e fracasso totais, de não haver direção e, em casos extremos, de questionar a própria existência. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade.

Necessidades básicas não satisfeitas: convivência com pessoas significativas que a aceitam de seu modo e respeitam seus limites e direcionamentos.

Esquema adaptativo (oposto): self desenvolvido. Estratégia de enfrentamento adaptativa: demonstra um sentido e direcionamento para sua vida, tendo limites bem definidos entre si e os outros.

Esquema: Subjugação.

Descrição do esquema: Submissão excessiva ao controle dos outros, por sentir-se coagido, submetendo-se para evitar a raiva, a retaliação e o abandono. As duas principais formas são:

- subjugação das necessidades: supressão das próprias preferências, decisões e desejos.

- subjugação das emoções: supressão de emoções, principalmente a raiva. Envolve a percepção de que os próprios desejos, opiniões e sentimentos não são válidos ou importantes para os outros. Apresenta-se como obediência excessiva, combinada com hipersensibilidade a sentir-se preso.

Costuma levar a aumento da raiva, manifestada em sintomas desadaptativos (como comportamento passivo-agressivo, explosões de descontrole, sintomas psicossomáticos, retirada do afeto, “atuação”, uso excessivo de álcool ou drogas).

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade e raiva. Necessidades básicas não satisfeitas: liberdade para expressas suas necessidades, sentimentos e opiniões, sem sofrer rejeição ou punição.

Esquema adaptativo (oposto): assertividade. Estratégia de enfrentamento adaptativa: demonstra assertividade e capacidade de expressão de necessidades, opiniões, sentimentos e desejos nas relações, mesmo quando estes diferem dos demais.

Esquema: Autossacrifício.

Descrição do esquema: Este esquema refere-se ao sacrifício excessivo das próprias necessidades a fim de ajudar os outros. Quando a pessoa presta atenção às próprias necessidades, geralmente sente-se culpada. Para evitar essa culpa, ela põe as necessidades dos outros acima das suas.

Muitos pacientes que se auto-sacrificam obtêm um sentimento de autoestima aumentada ou senso de significado por ajudar os outros. As razões mais comuns são:

não causar sofrimento a outros, evitar culpa por se sentir egoísta, ou manter a conexão com outros percebidos como carentes. Muitas vezes, resulta de uma sensibilidade intensa ao sofrimento alheio. Na infância, a pessoa pode ter sido obrigada a assumir excessivamente a responsabilidade pelo bem-estar de um ou de ambos os pais.

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: culpa, raiva. Necessidades básicas não satisfeitas: equilíbrio na avaliação da importância das necessidades de cada pessoa. Não utilização da culpa para controlar a expressão de necessidade da criança.

Esquema adaptativo (oposto): autocuidado e auto-interesse saudáveis. Estratégia de enfrentamento adaptativa: encontra um balanço harmônico entre suas necessidades e a dos outros, sendo gentil e útil para com a comunidade.

Esquema: Inibição Emocional.

Descrição do esquema: Inibição excessiva da ação, dos sentimentos ou da comunicação espontânea, em geral para evitar a desaprovação alheia, sentimentos de vergonha ou de perda de controle dos próprios impulsos.

As áreas mais comuns da inibição envolvem:

a) inibição da raiva e da agressão;

b)inibição de impulsos positivos (por exemplo, alegria, afeto, excitação sexual, brincadeiras);

c) dificuldade de expressar vulnerabilidade ou comunicar livremente seus sentimentos, necessidades e assim por diante;

d) ênfase excessiva na racionalidade, ao mesmo tempo em que se desconsideram emoções.

Este esquema é frequentemente provocado por pais que desencorajam a expressão dos sentimentos e emoções. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: inibição da emoção e racionalização excessiva.

Necessidades básicas não satisfeitas: cuidadores que sejam espontâneos e honestos com a expressão emocional da criança, e que a incentivem a expressar e falar sobre sentimentos.

Esquema adaptativo (oposto): espontaneidade e expressão emocional. Estratégia de enfrentamento adaptativa: expressa e discute livremente sobre vida emocional e sentimentos.

Esquema: Padrões Inflexíveis/Postura Crítica

Descrição do esquema: Crença de que se deve fazer um grande esforço para atingir elevados padrões internalizados de comportamento e desempenho, via de regra para evitar críticas.

Costuma resultar em sentimentos de pressão ou dificuldade de relaxar e em posturas críticas exageradas com relação a si mesmo e a outros. Deve envolver importante prejuízo do prazer, do relaxamento, da saúde, da autoestima, da sensação de realização ou de relacionamentos satisfatórios.

Os padrões inflexíveis geralmente se apresentam como:

a) perfeccionismo, atenção exagerada a detalhes ou subestimação de quão bom é seu desempenho em relação à norma;

b) regras rígidas e ideias de como as coisas “deveriam” ser em muitas áreas da vida, incluindo preceitos morais, éticos, culturais e religiosos elevados, fora da realidade;

c) preocupação com tempo e eficiência, necessidade de fazer sempre mais do que se faz. Normalmente, os pais nunca estavam satisfeitos e davam aos filhos um amor que estava condicionado a realizações notáveis.

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade. Necessidades básicas não satisfeitas: orientação no desenvolvimento de padrões equilibrados entre metas e outros aspectos relevantes da vida, com perdão por erros ocasionais.

Esquema adaptativo (oposto): padrões realísticos. Estratégia de enfrentamento adaptativa: apresenta flexibilidade para adaptar padrões a suas habilidades e aos contextos vividos.

Esquema: Arrogo/Grandiosidade/

Superioridade/Merecimento

Descrição do esquema: Crença de que é superior a outras pessoas, de que tem direitos e privilégios especiais, ou de que não está sujeito às regras de reciprocidade que guiam a interação social normal.

Envolve a insistência de que se deveria poder fazer tudo o que se queira, independentemente da realidade, do que outros consideram razoável ou do custo a outras pessoas. Tem a ver com o foco exagerado da superioridade (estar entre os mais bem sucedidos, famosos, ricos) para atingir poder ou controle (e não principalmente para obter atenção ou aprovação).

Às vezes, inclui competitividade excessiva ou dominação em relação a outros: afirmar o próprio poder, forçar o próprio ponto de vista ou controlar o comportamento de outros segundo os próprios desejos, sem empatia ou preocupação com as necessidades ou desejos dos outros.

Pais que são excessivamente indulgentes com os filhos e não estabelecem limites sobre o que é socialmente apropriado podem favorecer o desenvolvimento deste esquema. Alternativamente, algumas crianças desenvolvem esse esquema para compensar sentimentos de privação emocional, defectividade ou Indesejabilidade social.

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: raiva. Necessidades básicas não satisfeitas: orientação e imposição de limites afetivos para o aprendizado do efeito das ações dos outros para si e vice-versa.

Esquema adaptativo (oposto): consideração empática e respeito pelos outros. Estratégia de enfrentamento adaptativa: consegue colocar-se no lugar dos outros, mostrando consideração e respeito por necessidades e sentimentos alheios.

Esquema: Autocontrole e Autodisciplina Insuficientes.

Descrição do esquema: Dificuldade ou recusa a exercer autocontrole e tolerância à frustração com relação aos próprios objetivos ou a limitar a expressão excessiva das próprias emoções e impulsos. Em sua forma mais leve, o paciente apresenta ênfase exagerada na evitação de desconforto: evitando dor, conflito, confrontação e responsabilidade, às custas da realização pessoal, comprometimento ou integridade.

Quando a falta de autocontrole é extrema, comportamentos criminosos ou aditivos regem a vida. Os pais que não modelaram autocontrole, ou não disciplinaram os filhos adequadamente, podem predispô-los a ter esse esquema quando adultos. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: raiva.

Necessidades básicas não satisfeitas: orientação e firmeza empática e afetiva no adiamento de gratificações quando de tarefas diárias; limites expressos quando emoções se mostram fora de controle ou inapropriadas para os contextos.

Esquema adaptativo (oposto): autocontrole e autodisciplina saudáveis. Estratégia de enfrentamento adaptativa: é capaz de tolerar a frustração, adiando gratificações para a conquista de objetivos mais complexos.

Esquema: Busca de Aprovação e Reconhecimento.

Descrição do esquema: Ênfase excessiva na obtenção de aprovação, reconhecimento ou atenção de outras pessoas, ou no próprio enquadramento, à custa do desenvolvimento de um senso de self seguro e verdadeiro.

A autoestima depende principalmente das reações alheias, em lugar das próprias inclinações naturais. Por vezes, inclui uma ênfase exagerada em status, aparência, aceitação social, dinheiro ou realizações como forma de obter aprovação, admiração ou atenção (não principalmente em função de poder ou controle).

Com frequência, resulta em importantes decisões não autênticas nem satisfatórias, ou em hipersensibilidade à rejeição. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade. Necessidades básicas não satisfeitas: *ainda não definidos cientificamente.

Esquema adaptativo (oposto): *ainda não definidos cientificamente. Estratégia de enfrentamento adaptativa: *ainda não definidos cientificamente.

Esquema: Negativismo/Pessimismo.

Descrição do esquema: Foco generalizado, que dura toda a vida, nos aspectos negativos(sofrimento, morte, perda, decepção, conflito, culpa, ressentimento, problemas não resolvidos, erros potenciais, traição, algo que pode dar errado, etc.), enquanto se minimizam ou negligenciam os aspectos positivos ou otimistas.

Costuma incluir uma expectativa exagerada - em uma ampla gama de situações profissionais, financeiras ou interpessoais - de que algo vai acabar dando muito errado, ou, que aspectos da própria vida que parecem ir muito bem acabarão por desabar. Envolve um medo exagerado de cometer erros que podem levar a colapso financeiro, perda, humilhação ou a se ver preso em uma situação ruim.

Como exageram os resultados negativos potenciais, essas pessoas costumam se caracterizar por preocupação, vigilância, queixas ou indecisão crônica. Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: ansiedade, estado de alerta. Necessidades básicas não satisfeitas: *ainda não definidos cientificamente.

Esquema adaptativo (oposto): *ainda não definidos cientificamente. Estratégia de enfrentamento adaptativa: *ainda não definidos cientificamente.

Esquema: Postura Punitiva.

Descrição do esquema: Crença de que as pessoas devem ser punidas com severidade quando cometem erros. Envolve a tendência a estar com raiva e a ser intolerante, punitivo e impaciente com aqueles (incluindo a si próprio) que não correspondem às suas expectativas ou padrões.

Via de regra, inclui dificuldade de perdoar os próprios erros, bem como os alheios, em função de uma relutância a considerar circunstâncias atenuantes, permitir a imperfeição humana ou empatizar com sentimentos.

Emoções mais comuns, quando o esquema é ativado: mágoa, ansiedade e raiva. Necessidades básicas não satisfeitas: *ainda não definidos cientificamente.

Esquema adaptativo (oposto): *ainda não definidos cientificamente. Estratégia de enfrentamento adaptativa: *ainda não definidos cientificamente

MODOS ESQUEMÁTICOS

MODOS CRIANÇA

1. Criança Vulnerável (abandonada, abusada, solitária-inferior, dependente)

Existe a forte sensação de exclusão, rejeição e perigo na relação, bem como a insegurança na conexão e no vínculo. Como as necessidades emocionais mais importantes da criança não foram satisfeitas no passado, elas geralmente se sentem vazias, sozinhas, socialmente inaceitáveis, indignas de amor. Quando esse modo está ativo, a pessoa tende a acreditar que os outros as abandonarão, abusarão ou rejeitarão.

2. Criança Zangada

O sujeito sente-se injustiçado por faltas emocionais sentidas nas relações e acaba demonstrando raiva de forma intensa. Percepção de traição, abandono e desvalorização são expressas com agressividade, até mesmo com violência física e verbal.

3. Criança Enfurecida

Nesse modo a expressão da raiva fica fora de controle e tem como objetivo central destruir e/ou causar algum dano aos que estão lhe trazendo algum tipo de prejuízo.

4. Criança Impulsiva

Esse modo é caracterizado ela busca impulsiva dos desejos e/ou necessidades infantis não satisfeitos. De forma egoísta e descontrolada, o indivíduo busca sentir-se mais seguro na relação, apresentando comportamentos impulsivos e precipitados, até mesmo trazendo risco para si e para os outros.

MODOS PAI/MÃE INTERNALIZADOS

1. Modo pais punitivos internalizados

Caracterizado por autopunições e autocrítica exagerada, há uma repetição de padrões parentais abusivos, agora internalizados no indivíduo. O tom desse modo é duro, crítico e implacável. Sinais e sintomas incluem aversão de si mesmo, autocrítica, automutilação, fantasias suicidas e comportamento autodestrutivo.

2. Modo pais exigentes internalizados

Há uma pressão intensa para manutenção de padrões excessivamente elevados, cobrança por sempre atender às necessidades dos outros e ser eficiente sempre.

MODOS DE ENFRENTAMENTO DESADAPTATIVOS

Os modos de enfrentamento desadaptativos são desenvolvidos na infância para amenizar sensações de privação e emoções nocivas para a criança, numa tentativa de se adaptar ao ambiente e às necessidades não supridas, fundamentais para o desenvolvimento saudável da personalidade.

É importante ressaltar que quando os modos de enfrentamento estão ativados, geralmente a pessoa se sente “adulta” e protegida, pois não está em contato com as emoções infantis. Entretanto, esses modos, usados de forma automática, rígida e padronizada, costumam trazer prejuízos e afastamento das necessidades emocionais.

1. Modo capitulador complacente

É desenvolvido para evitar possíveis agressões ou outras consequências nocivas. Quando esse modo é acionado, o sujeito submete-se aos desejos dos outros, desconsiderando os seus próprios. Ele suprime suas necessidades e emoções por medo de sofrer represálias, entrar em conflitos e/ou ser rejeitado.

2. Modo hipercompensador

2.1 Tipo autoengrandecedor

Se comporta de maneira autoritária, competitiva, grandiosa e abusiva, e busca status excessivamente. Os sujeitos com esse ME ativo encontram pouca empatia pelas necessidades ou sentimento dos outros, demonstrando superioridade e exigência de tratamento especial. Além disso, não acreditam que devam seguir as regras que se aplicam a todos os demais e costumam se vangloriar ou se comportar de maneira expansiva para inflar seu senso de identidade

2.2 Tipo provocador e ataque

O temor de ser controlado ou ferido faz com que o indivíduo se antecipe, buscando controlar os comportamentos dos outros por meio de ameaças ou agressões. Quando esse ME está ativado, há a utilização intensa de ameaças, intimidações e todos os tipos de agressão para forçar o controle sobre o outro. A desconfiança exagerada também pode ser usada na tentativa de proteção contra possíveis ameaças.

2.3 Tipo desconfiado/supercontrolador

Utiliza excessivamente uma hipervigilância paranoide de controle para se proteger.

2.4 Tipo perfeccionista

Usa estratégias obsessivas para evitar erros e aliviar culpa.

2.5 Tipo Predador e Manipulador

Empregam estratégias antissociais na busca de seus objetivos, podendo até assumir um “falso self” para isso.

3. Modos Evitativos

Visam a fuga das emoções desconfortáveis. O indivíduo pode usar a distração, a racionalidade extrema e até mesmo a dissociação.

3.1 Protetor desligado

é um modo evitativo em que o indivíduo se retira psicologicamente da dor das sensações do modo criança. Acontece como um desligamento de todas as emoções, funcionando de maneira quase robótica. Os sinais e sintomas incluem despersonalização, sensação de vazio, tédio, abuso de substâncias, compulsão alimentar, automutilação e queixas psicossomáticas. Há uma esquiva das próprias necessidades internas, emoções e pensamentos.

3.2 Protetor autoaliviador

Interrompe suas emoções ao se engajar em atividades que, de alguma forma, acalmam, estimulam ou distraem os sentimentos. Esses comportamentos geralmente são adotados de forma compulsiva ou viciante e podem incluir trabalho excessivo, busca excessiva por jogos de azar, ingresso em esportes perigosos, experiências sexuais perigosas, uso excessivo de internet/eletrônicos/jogos de computador e abuso de drogas.

3.3 Protetor zangado

Expressa raiva para proteger a criança vulnerável. A raiva pode ser também expressa indiretamente por meio de irritação constante, queixas, retraimento e comportamentos de oposição.

3.4 Protetor evitativo

Usa a evitação situacional e comportamental como estratégia de sobrevivência. Ex: um adolescente que se sente ameaçado pelas críticas dos colegas de aula se recusa a frequentar a escola.

MODOS ADAPTATIVOS

1. Modo Adulto Saudável

Reflete a busca de relações saudáveis e atividades positivas para si, identificando e lidando de forma saudável com pensamentos e sentimentos desconfortáveis. A pessoa consegue identificar suas necessidades emocionais não atendidas e de modo organizado e racional, busca meios para tentar as suprir na medida do possível. Demonstra tolerância à frustração e capacidade de planejamento.

O adulto saudável desempenha funções adultas apropriadas, como trabalhar, cuidar dos fihos, assumir responsabilidades e se comprometer. Nesse modo, também há a busca por atividades adultas agradáveis, como sexo seguro, interesses intelectuais, culturais, manutenção de saúde e autocuidados, entre outras atividades saudáveis. Há um bom equilíbrio entre as próprias necessidades e a dos outros.

2. Modo Criança Feliz

O indivíduo sente-se amado, conectado, contente, valorizado, nutrido, confiante, compreendido, validado e satisfeito. Com a ativação desse modo, o indivíduo mostra-se autoconfiante e encorajada para agir de forma autônoma e competente, expressando suas emoções e afetos espontaneamente.

Fonte: Terapia do esquema para casais, Kelly Paim e Bruno Luiz Avelino Cardoso (orgs.)